LA PLATAFORMANCE | 2ª TEMPORADA

A "segunda temporada" da La Plataformance terá seu reinício em maio e pode ser compreendida como um movimento mútuo entre todas as pessoas que acreditaram até então nessa iniciativa. Não houvesse o desejo de continuidade por parte dxs artistas da performance que colaboraram no processo... e certamente a mesma teria terminado seu ciclo ,tal como ocorre com boa parte das oficinas em geral.Dito de outro modo,quando se pesa uma crítica genérica sobre as oficinas de caráter temporário,logo incorre-se no risco de cometermos injustiças em algum nível.Entretanto,cabe pautar um recorte sobre o que se refere,ou seja, oficinas que estão tomadas pelos vícios das maneiras; oficinas que em muitos casos só atendem a um processo de iniciação e se distanciam daquilo que se tem enquanto execução direta sobre as pesquisas desenvolvidas por quem se inscreve; oficinas que em muitos casos se prestam somente a povoar a grade de programação de um equipamento e portanto, não se arriscam para além das grades.Por sorte, a La Plataformance se deparou com uma equipe de gestorxs (Michelle Gonçalves,Jaque Vasconcellos,Nina Pauline Knutson e Celso Curi) , capaz de suplantar essa realidade ao apostar em algo para além dos famigerados formatos...ao assumir a abertura de suas portas para as "deformações e demolições" .  

Dito isso,posso afirmar que fui contratado apenas para elaborar, implantar e moderar uma plataforma e/ou estação de trabalho em performance.Contudo, esse primeiro processo ou temporada teve seu ápice ,para que só agora adentremos um desafio maior que consiste na autonomia dessa plataforma, enquanto um lugar gestionado/cuidado pelas pessoas envolvidas.Esse novo contexto anuncia a minha saída da La Plataformance, enquanto moderador contratado ,de modo que eu ocupe um mesmo plano de participação em relação aos demais. Nesses dois meses de trabalho ,mantivemos esse blog em dia,para favorecer a transparência dos acontecimentos,bem como prestar contas ao poder público e seus contribuintes;também realizamos 2 vídeos próprios + uma publicação + um Documentário (a ser lançado em breve por Leco de Souza, pesquisador da imagem)

O grande desafio da La Plataformance foi o de gerar um ambiente amistoso e disparador de poéticas pessoais,de maneira que atendêssemos a um sinal desses tempos que é a utilização de um conceito de trabalho baseado em Crowdsourcing* e p2p**,ou seja, todos seriam geradores de conteúdo e por conseguinte compartilhadores. Procuramos também estabelecer estratégias que fugissem aos clichês,como por exemplo, aquele que visa a utilização de treinamentos corporais, sobretudo aqueles que consideram um corpo supostamente despreparado para a execução de uma determinada ação,necessitando de um adestramento para um suposto "despertar". Portanto, tratamos de estratégias que se aproximavam dos procedimentos de elaboração de cada participante,  e esses variavam de pessoa para pessoa, segundo sua própria lógica de percepção. Não obstante ,tudo foi feito para que essa arte que é idiossincrática e baseada na ação,encontrasse ressonância em práticas onde a subjetividade não fosse aplacada por um impulso baseado num coletivismo. Buscou-se desde o inicio não (a)ferir as individualidades, "não forçar a barra" ...para que todxs fossem respeitadxs e estivessem por sua vez, em consonância com suas próprias percepções e tempos. Trabalhamos sem quebrar a confiança em grupo e fora dele, para com a própria instituição,pensando sob a perspectiva de inserção numa política cultural voltada para o risco assumido,sobretudo, quando se fala em Performance.

Para além disso, havia um desejo de afastar a arte da performance de uma leitura datada e constituída por "eufemismos" como "artes integradas" ou ainda, por uma ideia circunscrita de interdisiciplinaridade, de maneira que isso se desdobrasse em percursos transdisciplinares e por vezes indisciplinares. Também pautamos um percurso que reafirmava sua condição de existência para além de uma arte do corpo, ou seja, algo baseado na arte de ação. Sendo assim, afastamos também a noção de uma arte que "paga tributo" para as linguagem já conhecidas. Assumimos a condição de aproximação/contaminação que a mesma possui em relação a tudo o que se manifesta em vida e numa perspectiva aberta de códigos e lugares. Assim o fizemos, tal como um software livre,cujo processo de modificação de dados se encontra em aberto .

Nossas atividades também levaram em conta o panorama atual da arte da performance no Brasil e entorno, sobretudo,os mecanismos para o funcionamento da mesma ,bem como seus consequentes agentes. Isso se deu de modo fluido, uma vez que a Performance habita há tempos, os outros sítios espalhados pelo Brasil e por consequência, tudo o que está para além da finada noção de detenção dos "saberes e poderes", restritos ao eixo RJ/SP. Isso se deu até mesmo em razão da La Plataformance também contar com pessoas nascidas em outras cidades do país,de modo que pesquisamos outras leituras acerca da Performance, aproximando-a de outras nomenclaturas em uso pelo país e entorno: fuleragem, arte de ação, performação e etc.

A La Plataformance é também a continuidade dos esforços gerados por algumas forças da performance na cidade de São Paulo,gente que fomentou e tem fomentado muita coisa na área em meio a tanta precariedade e desconfiança. Dessa maneira, cabe destacar Vanderlei Lucentini e sua contribuição histórica com as mostras de "Vídeo e Performance" realizadas em parceria com o extinto "Cine Galpão" e Lúcio Agra/Otávio Donasci e cia ,sob o entusiamo e manutenção  do "Perfor" (fórum dedicado a arte da performance).Ambos detonaram um processo de retomada da linguagem na cidade de São Paulo,na virada da última década,sobretudo, uma virada que resultou num processo de afinação ,ainda que tardia, com as correntes da performance representada por tantos encontros há muito presentes, pelo país afora.  

Somos parte de uma turma guerreira, pretensiosa e que não pode esperar mais ou sucumbir ao conservadorismo presente no país. Acredito ou acreditamos (arrisco falar em nome dxs colegas) que a La Plataformance cumpra inclusive aquilo que a escola/universidade não conseguiu fazer tão bem... que é "botar as pessoas pra acontecer"...criar situações de disparo.

Em suma, a La Plataformance é pública, é pra cidade, pro país...continente e portanto aberta a todas as pessoas interessadas.Ela é pioneira, no que se refere a um lugar público/gratuito e permanente da cidade de SP,dedicado aos amantes da arte da Performance e afins.

Até breve!

Rodrigo Amor Experimental Munhoz